sexta-feira, 6 de agosto de 2010

65 ANOS DEPOIS, HIROSHIMA PERDOA, MAS NÃO ESQUECE A TRAGÉDIA DA BOMBA ATÓMICA

Há uma sobriedade atípica em Hiroshima, um silêncio que incomoda, especialmente quando estamos a falar de um país cujas telas eletrônicas, propagandistas com seus megafones e sinais de semáforo se misturam a uma população inquieta, que vai e volta freneticamente, num ritmo que parece não ter fim. Se a sensação faz parte da culpa histórica dessa ter sido a primeira cidade a ser atingida pelo impacto da guerra nuclear, é difícil dizer, mas quem já esteve na terra do sol-nascente há de concordar com tal afirmação. Em 65 anos, Hiroshima parece ter perdoado - com a cultura americana descaracterizando casas e estabelecimentos - mas não esquecido a tragédia que ocorreu em 6 de agosto de 1945.


Segundo dados do governo, a cidade recebe anualmente cerca de 3 milhões de turistas, 99% deles com um único interesse: conhecer a Praça Memorial da Paz, hipocentro da bomba, que explodiu a 500 m do centro. Apesar da importância histórica do local, a sua entrada tem ares de espectáculo nostálgico. Não dá pra deixar de notar a fixação que as pessoas têm pela guerra e o "grand finale" da bomba atômica. O problema é que a ficção científica acaba quando começa a nossa culpa cristã.

O Museu Memorial da Paz é um dos poucos museus financiados integralmente pelo governo japonês. A entrada, é simbólica, uma taxa para que ele continue em pé todos os dias do ano. Uma vez lá dentro, é possível ter acesso a informações em nove línguas, entre elas o português.

Entre imagens da destruição e maquetes feitas para ilustrar as perdas do povo japonês, podemos ver réplicas de corpos despedaçados, objectos e roupas que pertenceram às vítimas, todas com um pequeno texto contendo a história de cada uma delas. Há uma sala somente para Sadako Sasaki, garota que sobreviveu à bomba atômica mas morreu dez anos depois, com um quadro complicado de leucemia. Ela, como milhares de habitantes da cidade e seus arredores, tornou-se uma "gembakusha", como os japoneses chamam os sobreviventes da bomba que posteriormente desenvolveram cancro e problemas de saúde devido às radiações.

Sadako morreu em outubro de 1955, após fazer 644 "tsurus", origamis no formato de pássaros que representam a paz. Para os japoneses, Sadako é símbolo da ameaça atômica e dos horrores da guerra. Na praça memorial da paz, a menina tem até um monumento, onde diariamente grupos de crianças japonesas em idade escolar vão fazer orações.

A Cúpula Genbaku, que à noite fica iluminada em holofotes de várias cores, do lado de fora, foi a única construção que ficou de pé com a explosão. As ruínas permanecem intactas, isoladas por alarmes, segurança e alguns fortes alicerces. A construção, que pertenceu à Câmara Municipal de Hiroshima, era para ter sido demolida, mas hoje é património mundial e a maior memória real dos japoneses - e do resto do mundo - sobre o ocorrido.

65 anos depois, ainda há marcas da bomba atômica em Hiroshima. Esta linda cidade ainda está de luto para ensinar que na guerra nuclear, ninguém sobrevive. Ganha quem morre por último.
 - JPnews -

1 comentário:

  1. Talvez tenha ganho quem morreu primeiro pois não sobreviveu para ver a morte lenta e a destruição geral, em conta gotas. Em geral o ser humano tem uma atração pelo que é trágico. Privilegiar o que é belo, o que é bom, elogiar as pessoas ao invés de ver o lado negativo delas é característica de pessoas evoluídas espiritualmente, mas nós ainda chegamos lá. Gostei do seu blog. Beijos...

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Atenção:
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